Estranhos também amam
Nem a aparência asquerosa e assustadora de Jack Skellington é capaz de afastar os fãs de O Estranho Mundo de Jack. Esse espírito da morte tão bem educado e cativante não conseguiria assustar alguém direito nem que quisesse. Não foi por mal que ele seqüestrou o Papai-Noel assumindo seu lugar; e suas intenções eram as melhores quando colocou cabeças de animais mortos como presentes para as crianças no natal.
A mistura de fábula infantil com musical e conto gótico cheio de questões psicológicas faz desse filme um grande ponto de interrogação. Não é possível colocar um rótulo em sua capa e deixa-lo numa estante misturado a outros títulos. Apesar disso, é a estética animada mais uma vez que acaba por defini-lo erroneamente como infantil.
Como se não bastasse ter sido idealizado por Tim Burton, este é o primeiro longa metragem feito em stop-motion. Baseado em um poema do próprio Burton, o filme exala por todos os poros as marcas de seu idealizador, mas a direção não é dele, como muita gente pensa. Por estar envolvido com Batman – O Retorno em 1992, a direção acabou ficando por conta de Henry Selick.
Mas é o roteiro que realmente chama mais atenção. Além da mistura de Halloween e Natal e da melosa história de amor, o conflito existencial de Jack é o mais importante e é o que move a história. Quem nunca se questionou se está vivendo do modo certo que atire a primeira lanterna de abóbora. E tudo no filme segue um caminho brilhante até o final, quando vem aquela moral de que você tem que fazer aquilo que nasceu para fazer e Jack regride ao começo da história, mas agora com o amor de Sally. É como a animação Bee Movie, que também seria sensacional se não fosse esse final determinista do Jerry Seinfield.
Se fosse assim, João Moreira Salles, filho de banqueiro, seria mais um banqueiro filho da mãe que usaria terno e falaria de ações do seu blackberry. Mas não. Ele nos presenteou com a melhor publicação de jornalismo literário do Brasil (talvez a única), a piauí, e alguns dos documentários mais interessantes dos últimos tempos.
Deixando a família Salles de lado, O Estranho Mundo de Jack é valido como forma de entretenimento capaz de gerar questionamentos. O que só nos leva a agradecer o dia em que Tim Burton teve essa ideia ao ver os enfeites de Halloween serem trocados pelos de natal, nas lojas.
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