Estátua Morta
"Somente os artistas são pessoas, os demais não. Onde estão John, Joe Jake, Jim, Jean, Jerk? Mortos, mortos, mortos. Eles nunca nasceram... Onde estão Leonardo, Rembrandt, Ludwig? Vivos, vivos, vivos. Eles nasceram."
Faz sentido pensar que seu nome só entrará para a história, caso você faça algo realmente grande. Algo a ser lembrado por séculos. Por isso é compreensível que o personagem principal de Balde de Sangue, de 1959, queira fazer sucesso para não morrer depois de morrer.
Garçom de um bar frequentado por artistas, jornalistas, poetas e qualquer outro tipo de marginais da época, o personagem principal é um invejoso. Ele deseja ser tão famoso quanto as pessoas que serve, mas não tem o mínimo de talento para isso. Além do mais, é doido. Um dia, quando mata sem querer o gato da vizinha e reveste o corpo com argila tem aí uma "bela" obra de arte, que faz imediato sucesso entre os frequentadores do bar Porta Amarela. Para continuar o sucesso e se manter em foco, o garçom passa a matar pessoas de verdade.
Rodado em plena efervesecência do movimento beatnik, o filme pode ser visto como um retrato em preto e branco desse mundo onde poetas loucos e bêbados nasceram para deturpar a visão tradicional do mundo como o conhecemos.
O longa, se é que se pode chamar assim, não tem em evidência nenhum balde de sangue em seus 65 minutos. E é tão rápido e rasteiro que mal se pode se identificar com os peronagens. Os efeitos poderiam ser escritos com um "d" na frente de tão toscos e as desculpas para as mortes são tão vagabundas que envergonham. Edgar Allan Poe levantaria do caixão se soubesse que um conto seu influenciou a morte do gato.
Mas por ter um argumento incrivelmente brilhante e uma cena de abertura fantástica, mesmo que simples, todos os erros são perdoados. Como se não bastasse, o filme foi influência para Art Spiegelman, o único quadrinista ganhador de um Politzer, por Maus (leia a entrevista da Folha). Com tantos elogios, não dá pra entender por que o diretor Roger Corman, só ficou conhecido 18 anos depois, com A Pequena Loja de Horrores.
(Mas, possivelmente, você não encontrará esse filme na locadora. Clique aqui para baixá-lo.)
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