sábado, 14 de fevereiro de 2009

Milagre em St. Anna

Um caixa de banco, aparentemente amargurado, passa fogo em um cliente mal educado. A arma, uma alemã, da Segunda Guerra Mundial, é largada no local do crime. Assim como o chapéu do tal cliente. O assassino é preso sem resistência — um negro norte-americano cristão. Uma estátua italiana avaliada em milhões é encontrada na casa dele.


Militância racial, crítica à sociedade consumista, hipocrisia branca. Todos temas que podemos encontrar em obras de Spike Lee. (Ousaria dizer em todas as obras de Spike Lee.) Porém, dessa vez, de uma maneira extremamente original. Após brigar publicamente com Clint Eastwood — diretor de Flags of our fathers e Letters from Iwo Jima —, graças à falta de soldados negros no retrato feito por ele da Segunda Guerra Mundial, Lee veio com a sua versão da História.

"Nós também lutamos por este país!" A fala, uma das primeiras do personagem Hector Negron — o caixa de banco —, expressa o pensamento de soldados, negros e latinos, renegados por Hollywood. Portorriquenho vivendo em Nova York, Negron lutou a II Guerra pela 92ª divisão de infantaria — os "Buffalo soldiers" —, composta apenas por soldados negros.

Ao lado de outros três combatentes, ele acaba ilhado em uma pequena vila italiana. E é aí que todo o enredo se desenrola, com cigarros Camel e chocolates Hershey's como moeda de troca com os locais. No caminho até a vila, porém, um dos colegas de Negron, Samuel Train, resgata um menino italiano. Menino que servirá como amuleto, um bambino sozinho que esconde um grande segredo e será a chave para desvendar todo o mistério.


Pelo retrato de Lee, os Buffalo soldiers não têm respeito algum perante seus comandantes brancos. São tratados do mesmo modo que em Louisiana, Carolina do Norte, Texas e todos os outros estados sulistas e preconceituosos. Fato curioso é que, de tempos em tempos, um ou outro comandante sob a égide de Hitler é retratado de maneira dócil. Um deles chega a dar clemência e a ajudar o protagonista. Ângulo curioso e ambíguo da guerra que deveria ter acabado com todas as guerras. Ângulo que só Spike Lee seria capaz de proporcionar.

Mas eu ainda prefiro o ângulo do Clint Eastwood. (Mesmo sem os soldados negros — uma falha, diga-se.)

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